A manhã de quarta-feira, 18, começou com o pé direito – ou melhor, com os dois pés dançando – na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Conjunto Maguari, em Belém. Logo cedo, o som do tecnobrega e do carimbó tomou conta do espaço, com direito até a uma quadrilha improvisada. Tudo com a orientação da educadora física, que colocou os idosos do Projeto Viver Bem, desenvolvido pela unidade, para movimentar o corpo e abrir o sorriso.
A programação especial foi organizada para marcar oDia Mundial de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado no último domingo (15). E o clima por lá foi de acolhimento, cuidado e muita alegria. Além da aula de dança, os participantes do projeto ainda tiveram à disposição serviços de massoterapia, podologia e outras atividades voltadas para o bem-estar.
Quem frequenta o projeto sabe: ali é mais que um espaço de saúde. É um lugar de amizade, acolhimento e troca de experiências. "Eu sou privilegiada de participar desse projeto há mais de 15 anos. Agradeço à Prefeitura, ao posto... Eu nunca falto, gosto muito! Isso aqui só faz bem pra gente. Prova disso é que todo dia estamos todos aqui", contou Marlene Amador, com aquele sorriso de quem realmente se sente em casa.
Já a Júlia Pereira, de 67 anos, mal conseguia ficar parada. "Eu adoro dançar! Nasci pra dançar! Participo do programa há uns 10 anos e, sempre que toca uma música, eu tô no meio", disse, entre um passo e outro.
Do outro lado da roda, quem também chamou a atenção foi José Donato Cardoso, de 72 anos, morador do bairro. Ex-peladeiro, ele hoje é figurinha carimbada nas atividades do projeto. "Esse projeto foi a melhor coisa que aconteceu pra gente. Sempre gostei de esporte, mas nunca cuidei tanto da minha saúde como agora. Me sinto mais ativo. E não sou só eu: todo mundo aqui sente os benefícios. Tomara que a Prefeitura leve iniciativas como essa também pros jovens. Todo mundo merece esse cuidado com a saúde", destacou.
Entre os rostos mais conhecidos do grupo, estão as amigas Maria Gonçalves de Sousa, de 86 anos, e Elza Maria Machado, de 93. Elas fazem questão de lembrar como tudo começou: "Quando a gente participa de um evento desses, a gente está vivendo um pouquinho", disse dona Elza, emocionada.
"Aqui a gente conversa, brinca, faz exercício... Tudo aqui nesse espaço. Agora tem tanta gente que não cabe mais. Mas é ótimo!", completou Elza, com os olhos brilhando de orgulho.
Maria, uma das fundadoras do projeto, também fez questão de deixar um recado: "Vim pra cá e gostei, graças a Deus! Agora, com a saúde um pouco mais difícil, não venho sempre, mas tenho muita gratidão por tudo que já vivi aqui",.
O Projeto Viver Bem existe há mais de 20 anos na UBS do Conjunto Maguari e, atualmente, atende cerca de 150 idosos da comunidade, incluindo moradores do bairro Tenoné.A unidade tem hoje mais de 11 mil pessoas cadastradase o projeto é um dos grandes destaques no cuidado com a pessoa idosa.
Por trás de tudo isso tem uma equipe multiprofissional que trabalha com carinho e atenção: fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, assistente social, psicólogo, nutricionista, enfermeiro e educador físico.
De acordo com a coordenadora do projeto, Gabrielle Macedo,o Viver Bem vai além da atividade física. O principal é o acolhimento. "Muitos idosos chegam aqui em situação de isolamento social, abandono, e até vítimas de violência psicológica ou patrimonial. Tudo isso afeta muito a saúde deles. Nosso trabalho é acolher, escutar, e criar um ambiente de convivência, com rodas de conversa, palestras e muita interação. A gente vê a diferença no dia a dia: aquele idoso que chega aqui quietinho, triste, com o tempo começa a sorrir, fazer amigos e retomar a vontade de viver", destacou.
As ações vão desde caminhadas e alongamentos até oficinas de memória e de artesanato – cada uma com um objetivo: estimular o corpo, a mente e o coração.
E se depender da energia vista na manhã desta quarta, a certeza é uma só: o Viver Bem ainda tem muita história boa pra contar.