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Projeto Novo Carajás: O que o megainvestimento da Vale significa para o Pará?

Portal Parazão Tem de Tudo reflete sobre os impactos do anúncio bilionário da mineradora e os desafios para as comunidades locais

San Diego
Por: San Diego Fonte: Com Informações/ Brasil de Fato
21/02/2025 às 18h26 Atualizada em 21/02/2025 às 19h10
Projeto Novo Carajás: O que o megainvestimento da Vale significa para o Pará?
Fotos/Ícaro Matos

O Portal Parazão Tem de Tudo acompanhou de perto o anúncio do Projeto Novo Carajás, feito pela Vale no último dia 14 de Fevereiro, em Parauapebas, no Pará. Com um investimento previsto de mais de R$ 70 bilhões até 2030, o projeto promete ampliar a exploração de minérios e a produção de cobre na região. No entanto, por trás dos discursos de progresso e desenvolvimento, surgem questionamentos sobre os reais impactos para as comunidades locais e o meio ambiente.

O evento de lançamento contou com a presença do presidente Lula, que se colocou à disposição da empresa para garantir o sucesso do empreendimento. A cerimônia ocorreu, às vésperas da COP 30, levantando debates sobre as contradições entre a exploração de recursos naturais e a promessa de sustentabilidade na Amazônia.

Pablo Neri, integrante da coordenação nacional do MST no Pará, critica o modelo de desenvolvimento baseado na mineração. “Esse anúncio vem carregado de um discurso que já conhecemos: progresso, emprego e vantagens para a região. Mas a realidade é que a mineração traz consigo a falta de políticas públicas, a precariedade da infraestrutura urbana e rural, e a expulsão de populações tradicionais de seus territórios”, afirma.

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Parauapebas, município que sediou o evento, é um exemplo emblemático dos impactos da mineração. Desde a década de 80, com o Projeto Carajás, a cidade se tornou o maior arrecadador do país na área de mineração, mas também acumula altos índices de pobreza e desigualdade. A região é marcada por conflitos históricos, como o Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido há quase 29 anos, e por problemas urbanos decorrentes do crescimento desordenado, como falta de infraestrutura, violência e prostituição.

“Temos mais de 13 mil famílias acampadas na região, atraídas pela promessa de emprego na mineração. Mas o que encontram é a falta de retorno do Estado e da empresa, além da necessidade de lutar por moradia, alimentação e direitos básicos”, explica Pablo Neri.

Os movimentos sociais alertam que, enquanto as empresas acumulam lucros bilionários, as comunidades locais arcam com os prejuízos. Charles Trocate, coordenador do Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM), destaca que o Pará, responsável por 52% das exportações de minério de ferro do país, tem 3 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha da pobreza. “A mineração gera superávit para a balança comercial, mas, internamente, reproduz desigualdades e anomalias, como a isenção fiscal das empresas e a baixa compensação financeira pela extração mineral”, afirma.

A Vale, maior produtora de ferro do mundo, registrou um lucro líquido de US$ 1,947 bilhão apenas no último trimestre de 2024. Enquanto isso, as comunidades impactadas continuam enfrentando desafios históricos. “Já vimos esse filme antes. Cobramos do governo contrapartidas efetivas em infraestrutura e qualidade de vida para os moradores de Parauapebas e da região de Carajás”, reforça Neri.

O Projeto Novo Carajás promete aumentar a produção de minério de ferro para 200 milhões de toneladas por ano até 2030. No entanto, os movimentos populares defendem a necessidade de um controle social permanente sobre as atividades da mineradora. “Os capitalistas da mineração não podem substituir o governo, e o governo não pode agir como capitalista. É fundamental que a sociedade exerça esse controle, especialmente em um momento em que o modelo está incontrolável”, conclui Charles Trocate.

Enquanto a Vale celebra mais um capítulo de sua expansão, as comunidades do Pará seguem na luta por direitos, justiça social e um desenvolvimento que não deixe ninguém para trás. O Portal Parazão Tem de Tudo continuará acompanhando de perto os desdobramentos desse projeto e seus impactos na vida dos paraenses.

Fonte: Brasil de Fato 

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