A visão da dona Eronilda Marcelino, de 70 anos, é outra depois do transplante de córnea. “Antes, eu era totalmente dependente da minha filha e do meu marido. Não fazia mais nada sozinha. Vivia triste. Agora eu voltei a fazer minhas coisas, cuidar da casa, costurar, cozinhar, faço tudo. Estou muito feliz,” comemora.
A felicidade da aposentada é compartilhada por outros pacientes transplantados no Pará. Os dados do Banco de Olhos do Hospital Ophir Loyola mostram que o número de doações de córnea aumentou 80% nos últimos cinco meses, no Pará. Foram 104 tecidos recebidos e distribuídos para a Central de Transplantes do Estado.
O crescimento no número de doações veio depois da parceria entre o Banco de Olhos do Hospital Ophir Loyola e a Polícia Científica do Pará. Um acordo de cooperação técnica entre as instituições, firmado no último mês de maio, trabalha para aumentar a coleta de córneas e zerar a fila de espera pelo transplante.
“Esse número de mais de 100 doações em poucos meses é representativo. Antes, nós dependíamos muito da doação de outros estados. Ainda recebemos ajuda, mas hoje, após essa reorganização, temos uma esperança maior de zerar a fila de espera. Temos uma extensão do Banco de Olhos dentro da Polícia Científica. É uma equipe integrada e capacitada. Isso faz com que a gente diminua a perda de potenciais doadores”, acrescenta, Alan Costa, médico oftalmologista e coordenador técnico do Banco de Tecido Ocular do Hospital Ophir Loyola
O transplante de córnea é um procedimento cirúrgico complexo e indicado somente nos casos em que nenhum outro tratamento da córnea pode ajudar na recuperação da visão do paciente. A cirurgia permite a substituição total ou parcial da parede anterior do olho diante de doenças que atingem córnea e levam à cegueira.
De acordo com estatísticas mundiais, o transplante apresenta alta porcentagem de sucesso. Normalmente chega a 90% em situações não complicadas.
Segundo o Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, 209 pessoas fizeram transplante de córnea entre outubro de 2021 e setembro de 2022. Atualmente, 1162 paraenses estão na fila de espera.
O diretor-geral da Polícia Científica do Estado, Celso Mascarenhas, explica que para possibilitar que mais gente receba a doação, o trabalho de cooperação com o Banco de Olhos do Hospital Ophir Loyola envolve a ampliação e protocolos em relação à condução e armazenamento dos cadáveres, para que eles apresentem condições favoráveis de retirada das córneas. O tempo é fator determinante para o sucesso da captação do tecido ocular.
“Hoje, nós temos uma câmara fria que possibilita esse tempo de conservação para dar mais vida útil para as córneas. A retirada só é possível quando a família está presente e autoriza o procedimento na necropsia. Graças a esse trabalho, batemos o recorde de 130 córneas coletadas nesses últimos meses”, comemora o diretor.
Com a visão renovada, dona Eronilda fortalece a corrente em prol da doação de córneas. “É tão difícil não enxergar nada. Eu não desejo para ninguém o que eu passei. Sou uma vitoriosa, graças a Deus. Espero que outras pessoas tenham a mesma oportunidade. Por isso, seja um doador. Eu digo pra todo mundo que essa é uma atitude muito importante,” sensibiliza.
Mín. 23° Máx. 39°