
Raphaela Lopes, 34 anos, cresceu entre barracas de verduras, frutas frescas e o burburinho de fregueses que começam o dia logo após o sol se firmar. Desde os 15, passa os dias no Mercado da Pedreira, ondeaprendeu com os pais – feirantes de longa data – a arte de vender frutas. “De lá para cá não saí mais do Mercado. Já são quase vinte anos trabalhando com feira”, conta, sorridente, enquanto ajeita os produtos no box renovado pela Prefeitura de Belém.
O ofício, para ela, éherança de várias gerações. Os avós paternos viveram da venda de maniva; os maternos, de legumes. E a família segue espalhada pelos corredores: uma tia vende refeições no Mercado; outra parente, tucupi. “Está tudo aqui dentro, é uma família de feirantes”, diz Raphaela.

A rotina é puxada,Raphaela trabalha de segunda a segunda, das 7h às 13h30, no box Rafa e Frutas. Mas ela não está só. Anderson Lopes, 42 anos, trabalha ao lado da esposa – ainda que faça questão de lembrar: “Eu só ajudo, mas o box é dela”. Eles estão juntos há 20 anos.
Ele reconhece, porém, que a lida é conjunta, e dessa parceria vem o sustento da casa e a criação dos dois filhos, de 7 e 12 anos. “Nós tiramos o nosso sustento da feira, e assim estamos criando os nossos dois filhos”, afirma.
Foi também com o dinheiro do Mercado que Raphaela financiou integralmente sua graduação em Direito. O curso avançava enquanto o próprio Mercado mudava diante dos olhos dela e dos mais de 400 permissionários que trabalham no local.
Eles viram o antigo prédio deteriorado, sobreviveram a três anos de feira improvisada e, recentemente, voltaram ao espaço totalmente reformado e revitalizado pela Prefeitura de Belém.
“Antes da reforma o Mercado era sujo, tinha muito rato passando. Agora eleestá higiênico, o box está lindo, organizado”, conta Raphaela. A volta ao prédio ocorreu há um mês, e o novo ambiente parece ter aberto espaço também para novas ideias.
O casal decidiu se reinventar: criou um serviço de delivery. A novidade já rende frutos – além de atender moradores do próprio bairro da Pedreira, as entregas chegam até a Augusto Montenegro.
Curiosamente, quem mais pede são os jovens, sempre pelo WhatsApp. Raphaela explica que o cuidado com a seleção dos produtos é essencial para fidelizar clientes: “Isso inclui até enviar fotos e vídeos das frutas para mostrar que elas estão em ótimo estado”.

Visionária, ela planeja ir além: “A gente precisa se modernizar com o tempo. Ainda vou criar um Instagram também para o delivery”.
A infraestrutura renovada do Mercado ajuda a impulsionar o negócio. “A estrutura ficou ótima, agora têm várias entradas e saídas, o que melhorou a visualização do local como um todo. Antes aqui era muito quente, e agora está ventilado”, avalia.

Para Raphaela, o Mercado da Pedreira se tornou um ponto turístico do bairro– um espaço que atrai curiosos, moradores e visitantes interessados em ver como ficou a reforma. E isso, claro, ajuda a dar visibilidade ao box do casal e a divulgar o seu serviço de delivery. “Eu percebo queestá vindo muita gente para conhecer o local, ver como ficou a reforma, os estabelecimentos que têm. Assim o nosso box já fica conhecido também”, diz.
No coração da Pedreira, entre cores, cheiros e histórias de resistência,Raphaela segue escrevendo mais um capítulo da longa linhagem de feirantes de sua família – agora conectada por novas rotas, que passam tanto pelos corredores do Mercado quanto pelas mensagens de pedidos pelo celular.