Alimento presente no dia a dia do paraense, o açaí é tão importante para a cultura e economia local que tem data de comemoração. Instituído pela Lei Estadual 8.519/2017,o Dia do Açaí é celebrado em 5 de setembro.
Colhido nas ilhas e municípios do interior, depois armazenado nos paneiros, transportado empopopôspara Belém, o fruto chega no principal ponto de comercialização da capital: a Feira do Açaí, onde os marreteiros revendem o fruto aos batedores.
A Feira do Açaí é um marco na história de Belém e integra o Complexo do Ver-o-Peso – tombado em 1977 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A reforma do Complexo, uma das obras municipais em preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), já está com98% da reforma concluída. A Prefeitura entregou completamente reformadas a Feira do Açaí e a rua da Ladeira, além da Pedra do Peixe .
“A estrutura melhorou muitoe hoje a gente tem a programação Fé no Batuque, que acontece toda primeira sexta-feira do mês”, destaca o diretor da Associação da Cadeia Produtiva de Açaí de Belém (ACPAB), Jhoy Rochinha.
Além da venda de açaí, a Feira do Açaí conta com boxes de alimentação e bebidas que tiveram infraestrutura e cobertura renovadas, visando ampliar as vendas no local, inclusive atraindo mais turistas.
“A reforma dos boxes foi muito boa. A gente trabalha para melhorar nosso espaço, para que se torne um ambiente familiar. Graças a Deus teve essa melhoria, o ambiente ficou mais higiênico, mais amplo”, elogia Carolina Guilherme, vendedora de um dos boxes.
Comprado em rasas na Feira do Açaí, o fruto é levado pelos manipuladores e batedores aos seus pontos onde extraem a polpa seguindo uma série de etapas com toda a higiene necessária. A manipulação segura e higiênica do fruto à polpa é possível graças aos equipamentos: esteira de catação e seleção; tanques para lavagem, branqueamento e resfriamento; e batedeira de açaí.
O ponto do batedor Luciano Braga surgiu no bairro do Jurunas durante a pandemia de Covid-19 como alternativa para o sustento do lar.Hoje ele atende uma freguesia fiel e vende em média de 80 a 100 litros de açaí diariamente.
A Casa do Açaí promove capacitações gratuitas para batedores e fiscaliza os pontos de açaí no município. O açaí é manipulado seguindo as boas práticas conforme o Decreto Estadual 326/2012, que regulamenta o processamento do açaí e da bacaba.
A Casa do Açaí iniciou as capacitações em 30 de maio de 2023. Atualmente localizada na travessa Bom Jardim, bairro Cidade Velha,a instituição contabiliza 357 manipuladores capacitados somente no ano de 2025.
A capacitação tem duas etapas: teórica e prática. Na teórica, são abordadas asboas práticas de manipulação do açaí com foco na prevenção da doença de Chagase outras doenças transmitidas por alimentos; as normas do Decreto Estadual 326/2012; e formas de contaminação.
Depois os batedores passam para a parte prática,quando recebem treinamento na sala com os equipamentos necessários para processar o açaí, conforme o decreto, quanto todas as etapas são apresentadas.
A manipulação adequada evita o contágio pela doença de Chagas, além de outros problemas de saúde. Com os instrutores qualificados e equipamentos para manipulação,a Casa do Açaí é referência em capacitação em todo o estado do Pará.
“Nas visitas do Ministério Público junto com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), a coordenação estadual que monitora a doença de Chagas pelas cidades do interior indica a Casa do Açaí de Belém aos representantes dos outros municípios. Então, por meio do Governo do Estado, a Casa do Açaí recebe esses grupos”, explica a coordenadora Débora Barros.
Quanto à fiscalização, a Casa do Açaí verifica a estrutura dos pontos, se possuem os equipamentos mínimos necessários para realizar o processamento correto do fruto. “De início a fiscalização orienta, dá toda a atenção necessária, depois cobramos com mais vigor. Durante a fiscalização, se necessário, a Casa do Açaí lavra um termo de intimação ou um documento solicitando adequações e dá um prazo para que essas alterações sejam realizadas”, explica Débora Barros.
Trabalhando com açaí desde os 14 anos, Maik Santos sabe da importância de manipular adequadamente o açaí para oferecer um produto de qualidade para seus clientes:
“A gente precisa manipular o açaí com muita higiene. O nosso ponto é totalmente esterilizado, conta com filtro e tanques, como o de branqueamento. A fiscalização ajuda muito para manter esse padrão para que não venham a ocorrer casos de doença”, afirma Maik, que trabalha focado em garantir satisfação ao cliente.
Com uso da tecnologia, a Prefeitura de Belém, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Ministério Público do Estado (MPPA), anunciou o desenvolvimento do sistema “Açaí no Ponto” . A ferramenta digital permite o mapeamento de todos os pontos de açaí na capital paraense, com georreferenciamento e registro de informações básicas.
O banco de dados gerado pelo sistema “Açaí no Ponto” será seguro e atualizado, possibilitando o planejamento de políticas públicas nas áreas da saúde e segurança alimentar e impulsionando práticas de sustentabilidade, uma vez que vai auxiliar no descarte adequado dos caroços do fruto.
A Prefeitura de Belém inova também em outra frente para melhorar o cadastramento e recadastramento dos pontos. Mais de 850 agentes comunitários de saúde (ACSs) foram treinados para atuarem na identificação e cadastramento dos pontos de venda de açaí.
Os agentes estão treinados e aptos a visitar, entre 1º e 15 de setembro, os estabelecimentos, coletando informações dos pontos, oferecendo apoio técnico e prevenindo surtos da Doença de Chagas. A meta desses agentes é identificar e registrar, pelo menos, 8 mil batedores espalhados no município – número estimado, considerando estudo com a UFPA.
Com tapioca ou farinhadabaguda. Açúcar ou não. Peixe frito ou charque. O açaí tem lugar cativo na mesa do paraense etodos saem ganhando quando existem os devidos cuidados na manipulação. É um processo longo e necessário, cujo clímax reside na aprovação do consumidor.
O professor e escritor Felipe Cruz toma açaí todos os dias. “Gosto de tomar açaí só com farinha e, geralmente, acompanhado de alguma carne, charque ou bife”. Ele afirma que tomou açaí pela primeira vez aos 9 meses de idade.
Dona Nazaré também consome diariamente, preferencialmente com frango. “Moro aqui perto do ponto do Maik, gosto muito do açaí batido aqui”, elogia a freguesa.