Os muros da Escola Municipal Solerno Moreira, no bairro da Terra Firme, ganharam vida com as cores, formas e mensagens criadas pelos alunos da oficina de grafitagem promovida pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult). A noite da última sexta-feira, 25,foi o encerramento de uma semana intensa de aprendizado, trocas e descobertas artísticas.
A oficina integrou um projeto maior que promoveu, simultaneamente, duas turmas de formação nos bairros da Terra Firme e do Jurunas. As atividades aconteceram entre os dias 21 e 25 de julho, sempre das 18h às 22h, nas escolas municipais Solerno Moreira e Honorato Filgueiras. Ao fim das oficinas, os participantes recebem certificados de conclusão,reconhecimento oficial do mergulho no universo da arte urbana.
As oficinas foram divididas em duas etapas:a primeira foi o conteúdo teórico, incluindo técnicas como criação de letras, construção de personagens, uso de luz e sombra — ferramentas fundamentais para qualquer grafiteiro.
Asegunda fase foi a prática. Nos últimos três dias, os alunos colocaram em prática seus conhecimentos, grafitando os muros das escolas com rolo, pincel, tinta e spray,orientados por artistas experientes da cena local.
Entre os instrutores está a referência na cultura urbana da Amazônia, Tia Ireny, arte-educadora e grafiteira. “Foi muito mais do que ensinar técnicas. Foi uma troca, onde cada um trouxe sua bagagem e a transformou em arte no muro. O grafite é uma forma de expressão, resistência e também uma ferramenta de transformação social. Ver essa turma tão dedicada, com brilho nos olhos, é emocionante. Eles não estão apenas pintando, estão contando histórias”.
A aluna Gisele Mota, 28 anos, foi uma das participantes que mais se emocionou ao concluir sua obra no muro da escola.Inspirada por seus estudos em design de interiores, ela criou uma arte que representava a personificação da Vitória-régia.
Outro destaque foi Carlos Eduardo Dionísio, de 18 anos, que grafitou uma arte inspirada no guaraná, fruto típico da Amazônia. “Eu já estou na cena do grafite há algum tempo, mas estar com alguém experiente como a Tia Ireny abriu minha mente.A experiência dela trouxe um outro olhar que sozinho eu não teria. Para mim, que quero seguir na arte, foi um passo muito importante. Estar com outras pessoas com o mesmo propósito também faz toda diferença”, disse o jovem.
As turmas recebem orientação de artistas com trajetórias distintas e grande engajamento com a arte urbana da cidade, como Carlos Nyalles, artista visual natural do município de Vigia, e José Santana, educador e idealizador da Galeria TF, primeira galeria de arte urbana da Terra Firme.
As oficinas de grafite têm como objetivo fomentar a cultura urbana, abrir espaço para novos talentos e democratizar o acesso à arte nos bairros periféricos da capital.
“Esse tipo de oficina muda vidas. Muitos aqui nunca tinham segurado um spray antes e agora estão assinando murais. O grafite fala da nossa realidade, da nossa Amazônia, e dá voz à juventude da periferia. É assim que se constrói uma cidade mais justa, mais plural e mais criativa”, enfatiza Tia Ireny.
Uma terceira oficina será realizada na próxima semana, entre os dias 28 de julho e 1º de agosto, na Escola Municipal Josino Viana, no bairro da Pedreira.