19°C 35°C
Parauapebas, PA
De julho a dezembro, Belém vivencia o auge de um dos seus ciclos mais simbólicos: a safra do açaí. O fruto, que é um dos alimentos mais consumidos na região, movimenta a economia e está presente diariamente na mesa das famílias paraenses. Mas é também nesse período que deve ser intensificada aprevenção à doença de Chagas, cuja contaminação ocorre especialmente por transmissão oral, como no consumo de açaí contaminado.
Com foco na prevenção e no fortalecimento da rede de atendimento municipal, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), deu início na segunda-feira, 15, à capacitação“Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde no Enfrentamento da Doença de Chagas: Da Vigilância ao Cuidado Integral”, no setor de ensino do Hospital Universitário João de Barros Barreto. A iniciativa é realizada em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e segue até sexta-feira, 18.
Serão capacitados 500 profissionaisda rede municipal de saúde, entre médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde (ACSs), em turmas específicas e com conteúdos voltados para a realidade de cada categoria. O curso tem carga horária de quatro horas e conta com certificação da UFPA, em conjunto com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (Saps/MS) e a Sesma.
Segundo o médico infectologista Julius Monteiro, do Hospital Barros Barreto, a qualificação dos profissionais da atenção básica é estratégica para a contenção da doença.
“Precisamos relembrar os sinais da doença, especialmente na forma aguda. A transmissão por via oral, pelo consumo de alimentos contaminados, como o açaí, é uma preocupação real. E quanto mais capacitados estiverem os profissionais da rede, maior nossa chance de prevenir e tratar os casos com agilidade”, destacou o especialista.
Para os ACSs, que atuam diretamente nos territórios, a capacitação representa mais do que conhecimento técnico: é uma ferramenta de transformação comunitária.
“Esse curso nos dá mais segurança para orientar os moradores a comprar o açaí em locais licenciados e cobrar melhores condições de higiene dos batedores”, afirmou Jairo Neves, ACS da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Guamá, área com grande número de pontos de venda do fruto.
Já Renata Lopes, ACS da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Condor, ressaltou a credibilidade do trabalho dos agentes junto à população.
“As pessoas escutam a gente. Então, saber identificar os sintomas e orientar corretamente pode fazer toda a diferença no cuidado com a saúde das famílias”,afirmou.
Outro diferencial da estratégia da Prefeitura de Belém é aqualificação contínua dos batedores de açaí, realizada semanalmente na Casa do Açaí. A iniciativa busca fortalecer as boas práticas de higiene e manuseio do fruto, contribuindo diretamente para asegurança alimentarda população.
Para Débora Barros, coordenadora da Casa do Açaí de Belém, o trabalho conjunto com os ACSs tem sido fundamental para ampliar o alcance das ações de segurança alimentar nos territórios com maior circulação do produto.
“A Casa do Açaí mantém umaagenda contínua de palestras e capacitações técnicasvoltadas aos batedores, com o objetivo de garantir umaçaí mais seguropara a população. Nesse processo, o papel dos ACSs é estratégico: eles conhecem os territórios, têm diálogo direto com a comunidade e contribuem ativamente no processo de recadastramento dos pontos de venda. São multiplicadores de informação e por isso é tão importante investir em formações como essa”, ressaltou.
Ao fim do ciclo formativo, os resultados da capacitação serão apresentados em evento promovido pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) no dia 13 de agosto. A apresentação vai destacar o papel dos agentes comunitários de saúde e as estratégias integradas desenvolvidas pelo município para vigilância em saúde e segurança alimentar durante o período da safra.
Em 2024, Belém confirmou 32 casos de doença de Chagas. Somente neste ano, até o momento, já foram registrados 14, o que evidencia a necessidade de manter a vigilância ativa e as ações preventivas, especialmente nas áreas mais vulneráveis e com maior circulação do açaí.
