Morador do distrito de Outeiro, José Aprígio, 67 anos, participou pela primeira vez da formação promovida pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) para batedores de açaí artesanal. Com uma década de experiência no trabalho com o fruto, o produtor comercializa de 50 a 60 litros de açaí por dia e deseja aprimorar as boas práticas de manipulação.
“Eu tinha um sítio onde plantava e vendia para os pontos de venda. Depois de um tempo, eu me tornei batedor também. Então vim entender mais, aprender aquilo que não sei e começar a usar esseconhecimento para melhorar o meu produto”, diz.
A chefe da Casa do Açaí e técnica da Vigilância Sanitária da Sesma, Débora Barros, explica que a finalidade da formação éorientar ao manipulador desde a lavagem até o processo final, de forma adequada, sem alterar o sabor característico do açaí.
“Queremos oferecer à população umproduto seguro, sem risco de contaminação, porque a falta de boas práticas de manipulação podem causar hepatite, salmonelose e outras doenças”, esclarece.
Em 2025, até o momento,mais de 480 manipuladores foram treinados sobre todas as etapas descritas no Decreto 306/2012,que regulamenta omanejo adequado do açaí. Eles aprenderam o processo de branqueamento, em que os frutos devem ser lavados com água clorada, submetidos ao choque térmico com água em temperatura de 80 °C durante dez segundos e, em seguida, resfriado em temperatura ambiente.
“Ao final de cada encontro, os batedores participam da degustação e comprovam que a higienização correta não altera o sabor do fruto, apenas assegura mais segurança ao produto. E recebem a carteira exigida nas fiscalizações, as quais são utilizadas como instrumento de cobrança, pois foram orientados e não podem alegar desconhecimento em caso de irregularidades”, ressalta Débora.
A procura pelo curso aumentou entre os novos empreendedores que desejam iniciar o processamento do açaí de forma segura, em conformidade com as normas sanitárias. Segundo Débora Barros, “o interesse é impulsionado pela expectativa de maior movimentação de turistas durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30)”.
Rosivânia Oliveira, 57 anos, trabalha como caixa de um restaurante, mas deseja investir no açaí. “Eu quero ter o meu próprio negócio e desenvolvê-lo de forma correta, sem colocar a saúde das pessoas em risco”, afirma.
Campanhas educativas, inspeção e fiscalização de estabelecimentos comerciais, apreensões de produtos irregulares e concessão de licença sanitária fazem parte de uma série de ações integradas realizadas pelos órgãos municipais com o intuito de garantir um alimento seguro à população. As atividades são intensificadas durante a safra do açaí, no período de julho a novembro, a fim de prevenir surtos da doença de chagas, que pode estar associada ao consumo do açaí ou outros alimentos contaminados.
“Todo esse trabalho é fundamental para assegurar aproteção da saúde pública, garantindo que os alimentos que chegam à mesa da população estejam dentro dospadrões de segurança e qualidade”, destacou Renan Puyal coordenador da Vigilância Sanitária.
Além da Sesma, a iniciativa conta com parcerias da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), Ministério Público do Pará (MPPA), Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário (Sedap), e de outros órgãos que apoiam desde a logística até a doação de frutos utilizados nas atividades educativas.