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Projeto de aproveitamento de amêndoas da Amazônia produz óleos e essências de alto valor

Com apoio da Fapespa, iniciativa alia inovação tecnológica e valorização dos recursos naturais da floresta

Redação
Por: Redação Fonte: Secom Pará
10/09/2025 às 09h09
Projeto de aproveitamento de amêndoas da Amazônia produz óleos e essências de alto valor
Foto: Divulgação

Para obter produtos sustentáveis a partir de amêndoas da região amazônica, um grupo de pesquisadores, de diversas regiões do País, reuniu-se em torno do projeto: “Aproveitamento integral das amêndoas de cupuaçu, castanha da Amazônia e de pracaxi: produção de óleos para uso alimentar e de produtos sustentáveis de alto valor agregado”.

A pesquisa é apoiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), referência em projetos que focam na biodiversidade amazônica. A equipe de pesquisadores vem trabalhando na produção de tortas (biomassas) residuais a partir das das três matrizes. A finalidade é gerar extratos ricos em compostos bioativos.

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Os extratos passam por um processo de microencapsulamento em spray-drier, uma técnica que ajuda a conservar suas propriedades. Em seguida, eles são enviados para análise em laboratório do Rio de Janeiro (RJ). Nesta etapa, os pesquisadores avaliam a composição química dos extratos e realizam testes (in vitro), para verificar atividades biológicas, como ação anti-inflamatória, antioxidante e possíveis níveis de toxicidade, entre outros.

Estudo envolve instituições de renome
A equipe completa do projeto tem como coordenador geral, o doutor Otniel Freitas Silva, da Embrapa – Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro), que conta com uma rede de contribuição extensa, a exemplo do doutor Anderson Junger Teodoro, da Universidade Federal do Fluminense (UFF) e Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição (UNIRIO); e dos pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), Andréa Madalena Maciel Guedes, Antonio Gomes Soares e Renata Galhardo Borguini.

Também participa do projeto, apoiado pela Fapespa, a doutora Valéria Saldanha Bezerra, do Amapá, como pesquisadora líder, e os professores doutores Heloísa Helena Berredo (UFPA) e Renan Chisté (UFPA/ UFMG).

No Pará

O líder da pesquisa, no Pará, professor doutor Fagner Aguiar, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), afirma que "é fundamentalmente necessário esse apoio para geração do conhecimento científico, para que os institutos de pesquisa possam gerar e transferir esses conhecimentos às comunidades para uma melhor vivência e bem-estar destas".

“Além de propiciar à academia, grandes oportunidades curriculares aos discentes que executam as atividades, incentivados por bolsas de pesquisa. Hoje, na equipe Pará, temos cinco bolsistas de Iniciação Científica, em andamento, e um pós-doutorado concluído no projeto”, explica.

Com o apoio formal de associações e cooperativas que trabalham com Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM), o projeto concentra suas pesquisas e a coleta de materiais, em regiões do Pará e Amapá.

Aproveitamento integral das amêndoas amazônicas
O pesquisador Fagner Aguiar explica que "o aproveitamento de biomassas residuais lignocelulósicas é um grande desafio para as grandes e pequenas escalas industriais, e pode ser incrementada para maior valorização junto aos pequenos produtores e comunidades tradicionais da região. Desta forma, agregará ainda mais valor às cadeias produtivas de pracaxi, cupuaçu e castanha da Amazônia”.

No Amapá, a Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru) fica localizada na Comunidade São Francisco do Iratapuru, às margens do Rio Iratapuru, no município de Laranjal do Jari. Ela foi criada para organizar a venda dos produtos e aumentar o poder de negociação com os clientes.

Os produtores locais trabalham, há mais de cinco décadas, com a coleta de castanha na área, que hoje é a Reserva de Desenvolvimento do Rio Iratapuru (RDSI). Outra parceria é com a Associação das Mulheres Extrativistas do Limão do Curuá (Amelc), no distrito do Bailique, onde é coletado e produzido óleo de pracaxi de forma artesanal. Lá são produzidos cerca de 1,5 mil litros por safra, utilizados nas indústrias de fármacos e cosméticos.

Associações comunitárias também participam da pesquisa

No Pará, a Associação dos Pequenos Produtores Rurais Extrativistas e Pescadores do rio Ipanema (APREPRI), do município de Curralinho, na Ilha do Marajó, trabalha com o pracaxi e o cupuaçu. Já a Cooperativa Agrícola de Tomé-Açu (Camta), no município de Tomé Açu. Estas organizações comunitárias participam de todas as etapas da execução da proposta, bem como colaboram com o fornecimento de matérias primas (amêndoas, óleo e torta) e com as instalações físicas para o desenvolvimento do projeto.

As parcerias entre as unidades da Embrapa, universidades, associações e cooperativas serão oficializadas, por meio de um contrato de cooperação técnica, que firmará o compromisso entre as instituições envolvidas e estabelecerá as bases para o desenvolvimento conjunto do projeto, e de ações em benefícios do setor na região amazônica.

Reconhecimento em publicações científicas
Os avanços nas pesquisas do projeto obtiveram reconhecimento nacional e internacional. Resultados parciais do estudo foram publicados em importantes eventos de iniciação científica como: o 29° Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos, em Florianópolis-SC (2024), o 3rd International Congress on Bioactive Compounds, em Campinas-SP (2024) e o 7th Symposium on Medicinal Chemistry of the University Moinho, Portugal (2025).

Em 2025, a pesquisa segue com resultados promissores, como a obtenção de extratos fenólicos microencapsulados, e aplicados em filmes comestíveis para aumento da vida útil de frutas, podendo ser aplicado no açaí para maior conservação do fruto no período pós-colheita, fase crítica de manuseio para agricultores da região amazônica. Além disso, a equipe constituída no Pará obteve resultados acerca das atividades antimicrobiana e biológica destes compostos, tendo como foco o uso para prevenção da diabetes.

Ainda neste ano, a expectativa é realizar um scale-up sobre o processo de fermentação das biomassas, para obtenção de maiores rendimentos em compostos bioativos. Ou seja, futuramente, o foco é a ampliação da escala do processo, buscando sair da fase experimental de laboratório e passar para fase da produção a nível comercial e industrial, adaptando e validando o processo, para que ele funcione em níveis e quantidades maiores.

Essa é uma transição fundamental para a pesquisa, onde se transforma a descoberta científica em produtos ou tecnologias que possam ser comercializados. Essas iniciativas reforçam o potencial da bioeconomia amazônica, aliando inovação tecnológica, sustentabilidade e valorização dos recursos naturais da floresta.

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