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Saúde mental: rede com mais de 100 unidades atende Belém

Há 95 Unidades Básicas de Saúde, quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps), uma casa de internação temporária e parcerias institucionais com eq...

Redação
Por: Redação Fonte: Agência Belém
03/09/2025 às 16h57
Saúde mental: rede com mais de 100 unidades atende Belém
Foto: Reprodução/Agência Belém

Foi em abril de 2021 que Letícia Sousa, então com 21 anos, teve o corpo tomado por algo que ela não sabia nomear. Universitária, moradora do bairro da Cabanagem, em Belém, ela havia acabado de passar por uma briga familiar quando sentiu o chão sumir sob seus pés. “Comecei a me tremer toda, não conseguia respirar e tive a sensação de que estava passando muito mal”, conta. O que Letícia não sabia naquele momento é que seu corpo tentava dar um grito — um pedido urgente de ajuda que muitas vezes é silenciado pela correria e pelo preconceito. Era uma crise de ansiedade.

Foto: Reprodução/Agência Belém
Foto: Reprodução/Agência Belém

Assustada com o que viu, a mãe da estudante procurou uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no mesmo bairro. Cinco dias depois, Letícia foi atendida por uma psicóloga. Desde então, segue acompanhada pela mesma profissional. “Descobri que o que eu tive naquele dia foi uma crise de ansiedade. Lembro que na primeira consulta eu chorava muito, tremia muito. Então comecei a ir toda semana na terapia, depois, conforme meu quadro foi melhorando, passei a ir de 15 em 15 dias”, diz ela. O que para muitas pessoas ainda é motivo de vergonha, Letícia transformou em uma travessia — com apoio, cuidado e tempo.

Os dados sobre saúde mental no Brasil são um alerta:segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2024, 5,8% da população brasileira, cerca de 12 milhões de pessoas, viviam com depressão. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos.A ansiedade, segundo a Associação Brasileira de Medicina do Trabalho, atinge 9,3% dos brasileiros— algo em torno de 19,4 milhões de pessoas. Isso faz do Brasilo país mais ansioso do planeta. Os transtornos ansiosos englobam fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático, ataques de pânico, entre outros sintomas.

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Não enxergar ou menosprezar os sofrimentos psíquicos tem consequências. Em 2015, em resposta a esse cenário,foi criada a campanha nacional Setembro Amarelo, que busca promover a conscientização sobre a saúde mental e a valorização da vida. A campanha é uma parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), e pretende derrubar preconceitos ao mostrar que doenças mentais não são fraqueza, são questões de saúde que exigem cuidado e dignidade.

Foto: Reprodução/Agência Belém
Foto: Reprodução/Agência Belém

A Prefeitura Municipal de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), mantém uma rede multiprofissional para atender casos de saúde mental.

Há 95 Unidades Básicas de Saúde (UBS), espalhadas pelos bairros e pelos distritos de Belém. Nessas UBS, equipes multiprofissionais — psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais — atuam para atender casos de saúde mental.Além disso,a cidade conta com quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps), um deles exclusivo para crianças e adolescentes, outro voltado para o uso abusivo de álcool e drogas, outro para adultos e ainda um Caps em Mosqueiro.

Segundo Eluana Costa Carvalho, coordenadora de saúde mental do município,o primeiro passo para quem está em sofrimento psíquico é procurar a UBS mais próxima. “Na UBS, a pessoa será acolhida e irá explicar tudo o que está acontecendo com ela para essa equipe composta por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. Essa equipe vai definir se o caso consegue ser tratado ali mesmo ou se precisa ser encaminhado para os centros especializados, que são os Caps”, explica.

Os Caps são estruturas do SUS criadas para oferecer tratamento a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, inclusive os decorrentes do uso de substâncias. São espaços pensados para romper com a lógica dos manicômios — instituições de exclusão e abandono — e promover a reinserção social das pessoas em sofrimento psíquico.

Mas nem todos os casos conseguem ser acompanhados apenas por essas estruturas.Em situações mais graves, ainda existe uma casa de internação no município: a Casa Mental do Adulto Maysa Santos, que acolhe temporariamente pacientes em estados de crise profunda. O objetivo é estabilizar essas pessoas para que elas possam voltar ao convívio social e comunitário. “Antes se pensava que a pessoa deveria ir para uma instituição para ser cuidada. Depois, vimos que o ideal era a prevenção e a promoção da saúde a partir do cuidado no território”, afirma a coordenadora.

Foto: Reprodução/Agência Belém
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Foi com esse entendimento que o SUS criou um modelo de atenção à saúde mental que parte do cotidiano, dos bairros, das casas. As UBS atuam dentro das comunidades, com equipes que também se deslocam para atender nos domicílios. São asEquipes Multiprofissionais (Emult), que fazem atendimento em casa, buscando ativamente identificar demandas de saúde mental, cuidados de saúde integral e até problemas endêmicos.

A partir dessa escuta ativa, caso haja na família alguém em sofrimento mental, a pessoa é encaminhada para a UBS, onde será decidido se o atendimento será feito na Unidade ou se o paciente precisará ser encaminhado para um Caps.

A coordenadora também aponta para um fenômeno que vem ganhando força nos últimos anos: o aumento dos casos de sofrimento mental em escala mundial. “O uso excessivo de tecnologias, a pressão por produtividade, a urgência das demandas, o pouco tempo de lazer e a falta de qualidade de vida… tudo isso, a longo prazo, impacta a saúde mental. Depois da pandemia de covid-19, começamos a falar mais sobre isso, mas esses problemas já estavam aqui. Só que ninguém olhava. Era mais fácil dizer que era frescura, que era loucura, que a pessoa estava fingindo.”

Agora, a escuta precisa ser outra. “A pessoa não está louca, não está fingindo. Ela precisa de cuidado, de intervenção e de respeito”. A coordenadora explica que a saúde mental é uma questão multifatorial que envolve políticas públicas e o bem-estar do cidadão na sociedade.

“A pessoa precisa viver com dignidade, com benefícios, ter lazer, escola pública de qualidade, comida em casa. Tudo isso garante estabilidade em saúde mental”, afirma Eluana Carvalho.

Foto: Reprodução/Agência Belém
Foto: Reprodução/Agência Belém

Em 2025, apenas até o mês de setembro, mais de 10 mil atendimentos psicológicos foram realizados na rede pública municipal, considerando os serviços da Atenção Primária e Especializada. A Sesma também conta cominstituições parceiras, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae),clínicas-escola de universidadescomo o Centro Universitário do Pará (Cesupa), as Universidades Federal do Pará (UFPA) e da Amazônia (Unama), Fibra e Centro Universitário da Amazônia (Esamaz), que oferecem atendimento psicológico gratuito ou com valor social, inclusive de forma on-line.

Letícia segue com sua terapia, na certeza de que falar sobre saúde mental no Setembro Amarelo é muito importante, mas mais importante ainda é desmistificar os problemas mentais ao longo de todos os meses. “A minha experiência na UBS foi muito positiva. Tive melhoras muito significativas, aprendi a lidar com a minha ansiedade e meu emocional amadureceu bastante diante dos problemas da juventude”, afirma Letícia Sousa, agora socióloga, formada em Ciências Sociais pela UFPA.

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