É toda sexta-feira que a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Jesus, Maria e José, localizada no bairro do Curió-Utinga, em Belém, se transforma em um palco encantado para histórias, personagens e muita imaginação. O cenário é resultado de um projeto educacional idealizado por professores da própria unidade, que desde o ano passado desenvolvem a chamadaSexta Literária. Uma proposta pedagógica queune mediação de leitura, ludicidade e participação ativa das criançasem dinâmicas que estimulam a imaginação e ampliam o repertório sociocultural dos pequenos.
A iniciativa nasceu do desejo dos educadores de criar situações significativas de aprendizagem, com base no universo simbólico e afetivo da infância. Em vez de ficar restrita à sala de aula, a leitura acontece nos mais diversos espaços da escola: pátio, biblioteca, jardins ou até nos corredores, sempre com ambientações pensadas para encantar.
A professora Francisca Ribeiro, que atua com uma turma do Jardim formada por 26 crianças de 4 anos, explica que acontação de histórias é uma poderosa ferramenta pedagógica. “Ela trabalha a atenção, a concentração, a imaginação. A dramatização, por exemplo, permite que a criança se coloque no lugar do personagem. E isso faz toda a diferença no desenvolvimento dela”, afirma.
No projeto,histórias são selecionadas com muito cuidado. Elas precisam ser curtas, dinâmicas e com personagens cativantes, exatamente para manter a atenção do público mirim. “Contamos recentemente o reconto da história A Princesa e o Sapo, escolhida pela professora Vânia (Soares). Como as crianças já conheciam, a empolgação foi maior. A personagem da bruxa chamou muito a atenção deles, assim como o sapo. Tudo foi planejado para marcar a memória afetiva das crianças”, detalha Francisca.
E não é só quem está com o giz na mão que participa.Funcionários da escola também entram em cena. Foi o caso de Carlos Clauber Barros, que trabalha no apoio escolar e já interpretou personagens como o Rei e o Homem de Lata. Para ele, o envolvimento com o projeto é um mergulho no universo lúdico que gera frutos reais no desenvolvimento das crianças.
“Quando aceitei o convite para ser o Rei, não imaginava a emoção que seria. As crianças reagiram com tanto entusiasmo, queriam saber quem era o personagem, queriam participar também. Isso impacta diretamente no aprendizado e me dá muito orgulho”, relata.
A professora Suellen Estiano Silva Largo confirma o impacto dentro da sala de aula: “Eles revivem as histórias, repetem, dramatizam.A oralidade é estimulada, o vocabulário cresce. A criança passa a contar com mais segurança, interage mais com os colegas. E o mais bonito é ver a alegria com que participam”.
Um exemplo desse encantamento é o pequeno Theo Efrain Gomes, de apenas 3 anos, que interpretou o Sapo ao lado da professora, a Princesa. Orgulhoso, Theo narrou como foi o momento: “A princesa beijou o sapo, que virou príncipe. E eu fui o personagem, ensaiei muito, achei muito legal e deveria acontecer mais vezes. A próxima historinha que eu quero é da Chapeuzinho Vermelho, porque eu gosto do lobo mau”.
O projeto não é só uma atividade recreativa,a Sexta Literária representa um avanço pedagógico: fortalece os vínculos afetivos, estimula habilidades cognitivas e sociais, e aproxima a escola do universo encantado da infância. A leitura, aqui, é ponte para o conhecimento, mas também para a empatia, a escuta e o sonho.
A experiência da Emei Jesus Maria e José é o reflexo de uma política educacional adotada pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Semec), que passou a incluir professores de sala de leitura nas unidades da rede municipal, por meio do PSS. A medida fortalece as práticas pedagógicas ao incentivar o contato com livros, histórias e atividades que estimulam a imaginação e a linguagem desde a primeira infância.
Ao investir na literatura como eixo de aprendizagem, o município amplia o repertório cultural dos alunos e cria um ambiente escolar mais criativo e acolhedor. Projetos como a Sexta Literária, desenvolvidos por professores dentro dessa proposta, reforçam a importância da leitura como ferramenta de desenvolvimento, promovendo vínculos afetivos, escuta ativa e construção do conhecimento desde os primeiros anos, com uma educação pública que valoriza o brincar, a imaginação e, principalmente, o olhar sensível sobre cada criança.