Você já ouviu uma música, se sentiu calmo, aliviado e até mais leve depois de um dia puxado de trabalho? Em Altamira, a experiência é vivenciada por pacientes do Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT). Um projeto na unidade aposta no poder da música e de letras e sons que podem ajudar na recuperação dos pacientes.
A iniciativa é uma parceria entre a unidade de saúde e a Banda Tradicional do 51º Batalhão de Infantaria de Selva (51 BIS). Usiel Anacleto está internado há mais de uma semana, passou por cirurgia e agora aguarda alta. Natural de Anapu, distante 140 quilômetros de Altamira, sede do HRPT, o paciente teve de mudar a rotina e se afastar da família devido ao tratamento.
Ele conta que se sentiu melhor depois de ouvir as canções tocadas pelos cabos Alex e Joel. “A música traz felicidade e esperança pra gente. Um momento desse é muito ótimo porque a música traz reflexão para a nossa vida”. Desde que foi internado, a companhia constante de Usiel, além das equipes do hospital que se revezam no atendimento, é a esposa. Maria Izabel diz que percebeu o efeito que as músicas causaram no marido. “Eu creio que a música ajuda na recuperação do paciente”.
Depois de um acidente de moto, Hygor de Souza foi submetido a duas cirurgias. A ala em que ele está internado foi uma das que receberam os músicos esta semana. O jovem de 21 anos relata que o incômodo do pós-operatório aliviou enquanto ele assistia às apresentações. “Relaxa a mente da gente”, disse ele.
O uso da música em ambientes hospitalares data do século XX, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e era uma forma de terapia a soldados. Daí o termo Musicoterapia. Estudos comprovam que, ao ser exposto a sons de instrumentos, canções e outras formas de entretenimento, o cérebro libera hormônios de prazer e coloca o organismo numa espécie de stand-by permitindo sensações de alívio, bem-estar e relaxamento.
Durante o processo, a memória é ativada e leva o paciente a lembrar de momentos de agradáveis para a mente, como explica Mylena Sousa, psicóloga do HRPT. “A música é muito afetiva, traz lembranças, leva a lugares, faz lembrar de momentos, de cheiros, de cores, de tudo aquilo que já foi vivenciado”. Isso ocorre porque “sempre há uma identificação de sentimento, seja com a letra, seja com a melodia”, comenta a profissional.
Esse bem-estar se estende aos próprios servidores e aos acompanhantes. Ao chegar para visitar a sogra internada, Maristela Fonseca conta que estava desanimada por ver a mãe do esposo doente, mas, assim que ouviu os acordes da banda do Exército, uma alegria imediata surgiu. “Um momento desse é altamente relaxante. Mexe na alma, você vê esperança de que algo melhor te aguarda”.
Quem também vai retornar para casa mais alegre e esperançoso é Carmosino Ribeiro. “Isso é muito especial, ajuda muito mais a gente se recuperar. Me sinto muito melhor agora”, comemora o aposentado, internado no pré-operatório. Carmosino se prepara para uma cirurgia na coxa, e ficou emocionado ao receber a visita da banda.
Com o projeto, o Hospital Regional da Transamazônica e a Banda Tradicional do 51 BIS já conseguiram impactar positivamente milhares de pacientes, acompanhantes e servidores. A Musicoterapia ocorre duas vezes por semana. Em cada visita a banda toca uma hora. Apenas entre março e julho deste ano, cerca de 700 pessoas acompanharam as apresentações.
Texto de Rômulo D’Castro