A Orla Encontro dos Rios, no bairro Francisco Coelho, o tradicional Cabelo Seco, na Marabá Pioneira, foi palco de mais um festival que celebrou a consciência negra no município, na quarta, 19, e quinta-feira, 20. O 15º Festival do Cabelo Seco, uma das mais importantes celebrações culturais em alusão à data. O evento foi promovido pelo Coletivo Consciência Negra em Movimento, Grupo de Mulheres do Cabelo Seco Raízes de Marabá, artistas e produtores culturais, com apoio da Prefeitura de Marabá, por meio das Secretarias Municipais de Cultura (Secult), Saúde (SMS) e demais instituições parceiras.

Neste ano, a programação teve como tema “Em defesa das águas”, reforçando a importância dos rios e corpos hídricos como elementos centrais da identidade amazônica. Oficinas, palestras, cortejo cultural, apresentações artísticas e atrações musicais integraram a agenda, que reúne diversas linguagens para refletir sobre ancestralidade, preservação ambiental e o papel das comunidades tradicionais.

O organizador do evento, Eric de Belém, afirma que é uma imensa satisfação realizar esse festival que se construiu em conjunto com a população do Cabelo Seco.

“Nos dá mais orgulho ainda porque não é uma construção que se deu de fora para dentro, mas uma construção que foi desenvolvida de forma conjunta. E o objetivo maior era, primeiramente, que se desconstruísse a imagem que se tem do negro. É uma imagem totalmente negativa. Isso era muito reproduzido aqui no bairro. Hoje a gente está mais feliz ainda porque não se limita somente aos limites de Marabá”, comenta.

Eric ainda destaca que a quantidade de negros que hoje se reconhecem como tal aumentou. “Mais de 80% da população marabaense se reconhece como negra e isso acho que é fruto justamente dessa luta, dessa reflexão, das mobilizações que têm sido desenvolvidas e hoje estamos com o desenvolvimento de várias atividades, exposições que a gente está tendo que trazem essa identidade negra”, informa.

A SMS, em parceria com alunos da Escola Técnica Grau Técnico, esteve presente com testes rápidos de HIV, Hepatite B e Sífilis, aferição de pressão, glicemia capilar e vacinação. Benevaldo Ibiapina, enfermeiro do Extramuro, afirma que a prefeitura está dando apoio ao evento por meio da Secretaria.

“Estamos aqui representando a Prefeitura Municipal de Marabá, prestigiando o evento, que é maravilhoso. A demanda está bem produtiva, vai dar para atender bastante gente, o povo já está aderindo aos serviços que estão sendo oferecidos aqui”.

Uma das exposições mais visitadas era a de artesanatos, como as de biojoias Patuá, que a arte-educadora popular Vanda Melo estava representando.

“Todo ano participo do evento da consciência negra, eu faço parte do DAC, que também faz um evento da consciência negra no bairro São Félix. A Patuá Biojoias é um coletivo de mulheres que faz parte hoje do Centro de Aquilombamento no bairro São Félix, que trabalha com artesanato, com plantação coletiva, são vários trabalhos relacionados com a cultura preta”.

O festival também contou com exposição da acadêmica de Artes Visuais e artista plástica Daniele Pimentel, que trabalha com reciclagem e tinta guache, retratando mulheres negras.

“Resolvi coletar esse material que é considerado lixo para fazer as minhas obras, dar essa segunda chance. E essa obra está aqui hoje em referência à consciência negra, ao tema do evento. Eu estava estudando peles negras, mas tudo parecia um pedaço de borracha. Eu usei cores nas peles, porque para mim a pele negra reflete esse tom. Como uma mulher negra, eu não vejo tantas obras que têm essa beleza, essa sensibilidade”, pontua a artista.

Uma das pessoas admiradas com as exposições e apresentações culturais era o analista de Qualidade Daniel Aviz. Ele diz se identificar com as manifestações culturais pois se identifica como pessoa preta também.

“É de suma importância toda a temática que é abordada e principalmente nesse cenário que é a Orla Encontro dos Rios e as atrações que está tendo. É o trabalho de pessoas negras, são as pessoas da nossa terra, que fazem esse trabalho no dia a dia por trás das câmeras, por trás de todo esse momento aqui. Eles estão lá, às vezes, acordando de madrugada, às vezes, se machucando e podendo promover isso. O artesanato é cultura. A fotografia é cultura. E tudo isso aqui é cultura. Então, eu me sinto muito feliz de prestigiar todo esse evento”, elogia.

Texto: Fabiana Alves
Fotos: Paulo Sérgio Santos e Bill Washington

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