O caldeirão político de Parauapebas voltou a ferver — e desta vez o tempero é pesado. Enquanto milhares de moradores convivem diariamente com torneiras secas e valas de esgoto a céu aberto, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saaep) resolveu direcionar quase R$ 1 milhão para… propaganda. Isso mesmo: publicidade. E o caso ganhou palco na Câmara quando a vereadora Maquivalda Barros (PDT) puxou o fio de um novelo que vinha escondido desde 2021.
Segundo a parlamentar, o contrato em questão — adormecido na gaveta por anos — ressuscitou subitamente na gestão de Aurélio Goiano e passou a receber pagamentos fragmentados, um atrás do outro, desde abril deste ano. Ao todo, foram 34 desembolsos, somando cerca de R$ 879 mil, sem que exista comprovação pública dos serviços supostamente prestados.
Como se não bastasse, a empresa contratada, que exibe o nome fantasia “Mais Comunicação”, sequer pertence ao município. Seu registro oficial, DMR Publicidade e Propaganda Ltda., aponta como sede a vizinha Curionópolis — mais um caso de empresa de fora mordendo o orçamento da Capital do Minério enquanto os problemas daqui se acumulam.
O que chama atenção, segundo Maquivalda, é o timing. O acordo nasceu de uma licitação de 2021, ainda na gestão anterior, mas nunca havia sido efetivamente contratado. Isso até a atual administração decidir formalizar tudo às pressas, já no apagar das luzes do ano passado. A partir daí, o dinheiro correu rápido. Rápido demais para um órgão que não consegue fazer a água correr nas torneiras de 60 mil habitantes.
E tem mais: todas as notas fiscais apresentadas pela empresa foram emitidas em Curionópolis, apesar de o contrato exigir que a contratada mantenha escritório ativo em Parauapebas. Não há registro público da existência de tal estrutura — o que deixa no ar um forte cheiro de irregularidade.
Enquanto o Saaep rasga dinheiro com publicidade de uma gestão que insiste em vender uma “reconstrução” imaginária, a realidade nas ruas é outra: bairros inteiros lutam por água potável, famílias convivem com esgoto cru, e a precariedade toma conta de um serviço que deveria ser básico.
A vereadora resume o sentimento da população: como justificar quase R$ 1 milhão em propaganda quando 20% da cidade ainda vive sem acesso ao abastecimento regular? Para quem essa publicidade está servindo?
A resposta, pelo visto, ainda vai render muitos capítulos — e, possivelmente, muita água… se um dia sair da torneira.
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