O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), lançou na noite desta quinta-feira (2) a exposição itinerante “Charges do Resistência”, durante a 3ª Conferência Estadual de Direitos Humanos, realizada no ICJ (Instituto de Ciências Jurídicas) e ICSA (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas), da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
O projeto faz parte do Programa Cidadania, Memória, Justiça e Direitos Humanos, e tem como objetivo apresentar a história da ditadura militar na Amazônia a partir das charges publicadas no Jornal Resistência, veículo alternativo criado pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), em oposição ao regime militar.
De acordo com a titular da Seirdh, Edilza Fontes, a exposição busca resgatar a memória histórica por meio da arte. “Com esse trabalho, a Seirdh busca incentivar o diálogo sobre os impactos do golpe de 1964 e reforçar a necessidade de preservar a memória coletiva para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. O jornal destacava-se por denunciar casos de tortura e seus responsáveis, abordar conflitos agrários, dar voz a grupos marginalizados e relatar a história do movimento estudantil no Pará, bem como a luta pela reforma agrária e eleições sindicais”, disse a secretária.
Ainda segundo Edilza Fontes, a leitura do jornal é fundamental para compreender a luta contra a ditadura e a busca por eleições diretas, bem como o debate em torno da anistia ampla, geral e irrestrita, direcionada às vítimas da repressão militar. “O jornal tornou-se um marco na sociedade, um jornal alternativo cuja construção me orgulha ter integrado. Atualmente, o periódico serve como fonte de conhecimento sobre a ditadura militar, seus efeitos e as atrocidades cometidas na Amazônia”, afirmou.
A mostra itinerante reúne 28 charges históricas, selecionadas e organizadas em um trabalho conjunto entre a Seirdh, a professora Anna Júlia Lustosa, e os jornalistas Paulo Roberto Ferreira e Walter Pinto.
Retrato da realidade -Eneida dos Santos aproveitou a participação na 3ª Conferência Estadual de Direitos Humanos para visitar a exposição itinerante. Para ela, a iniciativa de retratar a realidade do passado é de suma importância para manter a memória viva.
“A sensibilidade dos cartunistas que retratam a realidade contemporânea e buscam abordar as questões políticas por meio de detalhes, imagens e expressividade nos provoca uma reflexão sobre o passado, ao mesmo tempo em que demonstra, com brilhantismo, essa dinâmica de poder. Há sempre uma minoria que concentra o poder econômico e político, buscando dominar a maioria da população trabalhadora, oprimindo-a. E, para nós, nesta conferência de direitos humanos, essa exposição é fundamental, pois precisamos ter esse olhar crítico sobre essa construção que se manifesta aqui”, destacou.
Riqueza de informações -Quem também aproveitou para conferir a exposição durante a conferência estadual foi Maria Pires, para quem a mostra é extremamente elucidativa e rica em informações. “Essa exposição é muito importante. Seria igualmente importante integrar esse conteúdo ao currículo escolar e outras estratégias de ampliação do acesso da população. As informações expostas revelam eventos históricos que foram, e ainda são, determinantes para a nossa realidade. Constata-se, infelizmente, que há quem minimize ou negue a existência da ditadura e da escravidão, mesmo diante das evidências. É crucial estabelecer conexões entre o passado e o presente, compreendendo que os acontecimentos históricos não se limitam ao passado, mas persistem no cotidiano”, ressaltou.
Exposição Itinerante -Depois da 3ª Conferência Estadual de Direitos Humanos, o projeto seguirá em formato itinerante, circulando por escolas, universidades e Usinas da Paz.
A expectativa é que a mostra alcance cerca de 10 mil pessoas, entre estudantes do Ensino Médio, universitários, professores e representantes de movimentos sociais, promovendo reflexão e conscientização sobre os direitos humanos e a importância da democracia.