O sítio Taperebá, na Vila de Condeixa, município de Salvaterra, no arquipélago do Marajó, é uma propriedade de 138 hectares onde a criação de búfalos é feita em sistema rotacionado, método que consiste na divisão da área em piquetes, com intervalos para a movimentação dos animais, permitindo melhor o uso da pastagem e garantindo bem estar animal e produtividade.
Com mais de 50 búfalos a propriedade segue os pilares do programa pecuária sustentável que une a atividade econômica com a preservação ambiental e foi o local escolhido no arquipélago para sediar o treinamento de operadores da rastreabilidade, os chamados OPR, pessoas que estão sendo habilitadas pela Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Pará) para fazer a identificação individual do rebanho em diversas regiões do estado em que a pecuária é atividade econômica preponderante.
Durante o treinamento, 54 animais foram identificados. O curso atraiu jovens produtores como Tainá Meelissen, de 20 anos. A estudante de agronegócio acredita que a rastreabilidade deve melhorar o manejo das quase cem búfalas que ela cria para produção de leite e queijo, além de prevenir o furto de animais.
“Na nossa fazenda conhecemos os animais pelo nome, eles são dóceis e até atendem pelo nome, mas achei muito importante o fato de colocarem o brinco duplo para identificação, já que um único brinco pode ser perdido. Fiz o curso para aprender a fazer a brincarem e evitar que os animais sejam furtados”.
Os detalhes das informações, equipamentos utilizados na aplicação dos brincos nos animais e o uso do sistema de gestão de dados agropecuários (Sigeagro 2.0), sistema próprio da Adepará criado para abrigar os dados do programa, foi repassada pelo médico veterinário John Robert, responsável pela capacitação dos OPR.
De acordo com o veterinário, desde o início do programa, produtores vêm sendo treinados em diversas regiões do estado para atuar como operadores da rastreabilidade.
“Nós já treinamos pessoas para essa atividade em regiões do estado que concentram a maioria do rebanho como Sao Félix e Novo Repartimento e agora iniciamos no Marajó, que possui o maior rebanho de búfalos do Brasil com peculiaridades geográficas e de clima” , disse o veterinário John Robert.
Para o pequeno produtor Joelcio Fernandes, proprietário do sítio Taperebá, o programa deve trazer benefícios para o Marajó. Como a propriedade possui menos de cem cabeças , os brincos utilizados na identificação dos animais foram doados pela Adepará.
“Com certeza é mais benéfico para nós que somos pequenos criadores de búfalos no Marajó e que mantemos 50% da nossa propriedade preservada ambientalmente. A rastreabilidade , através dos brincos, vai garantir maior controle sanitário e maior qualidade dos animais”, disse o produtor.
O auxiliar de campo, Luiz Neves, que veio de Santa Cruz do Arari para o treinamento , destacou a importância do programa para o município que possui 24 mil bubalinos.
“Estamos aprendendo para fazer na prática com o produtor do nosso município, que é de 80% criador de bubalino. Vamos orientar o produtor a fazer respeitando a realidade dele em localidades mais remotas, mas vamos fazer acontecer, porque o programa é muito bom”.
Além da atividade prática, houve a apresentação do programa em evento, que contou com a presença de autoridades e reuniu produtores do arquipélago.
Programa Pecuária Sustentável
Implementado a partir de novembro de 2022 pelo governo do Pará por meio da Adepará, Semas, Seaf , setor produtivo e demais instituições parceiras, prevê a identificação individual de todo rebanho bovino e bubalino em trânsito, a partir de 1º de janeiro de 2026.
Com respaldo legal e capacitação do corpo técnico da Adepará , o programa entrou na sua terceira fase que contempla o arquipélago do Marajó, onde está o maior rebanho de búfalos do Brasil com mais de 800 mil animais e onde atualmente existem 3.500 criadores de bovídeos, 67% têm de um a 100 cabeças.
Para apresentar o programa neste território único que é o Marajó, a Adepará e a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), promoveram um evento antes do treinamento prático dos operadores da rastreabilidade.
Realizado no auditório do campus da Universidade do Estado do Pará (UEPA), o evento contou com a participação do secretário de estado de agricultura familiar, Cássio Pereira; do gerente em exercício da Regional da Adepará em Soure, Olivar Valente; do representante da secretaria de agricultura e abastecimento de Salvaterra, João Pena; da pesquisadora do IPAM, Graciela Froehlich; de Orlando Lameira, coordenador do escritório local da Emater; e do representante da UEPA, Renato Lobato.
Durante o evento, os técnicos explicaram como a rastreabilidade do rebanho vai trazer maior sanidade, produtividade e confiança para a carne produzida no Pará.
O secretário de estado da agricultura familiar, Cássio Pereira, fez a apresentação dos eixos do programa baseados na sustentabilidade, rastreabilidade e na responsabilidade social e ambiental.
“É uma política pública pioneira no Brasil que promove esforço coletivo do setor público com o setor privado para viabilizar uma pecuária de alta produtividade, transparência e com responsabilidade sócio ambiental em todas as etapas da cadeia produtiva”, ressaltou.
Edivan Carvalho, coordenador do IPAM, explicou que o programa segue avançando e que nas próximas fases o instituto deve ampliar a formação dos OPR. “Vamos continuar utilizando a metodologia da Adepará para o treinamento dessa mão de obra, fundamental para a expansão do programa, que pretende identificar individualmente todo o rebanho paraense até o final de 2026”.
Segundo o gerente regional em exercício da Adepará em Soure, Olivar Valente, a rastreabilidade vai garantir maior eficácia para a cadeia da pecuária com dados oficiais mais próximos da realidade e um mapeamento sobre a produção animal. “Apesar do conhecimento empírico sobre os produtores, não há informações claras sobre a quantidade de animais, propriedades, e o fluxo comercial (especialmente bezerros). Isso dificulta a organização da produção e a alocação adequada de subsídios para os municípios. Com a rastreabilidade vamos ter um cenário mais real sobre a procedência e o destino desse rebanho.