Setembro é o mês que a dona de casa Irlene Lima festeja aniversário pela segunda vez no ano. A dupla comemoração é pela nova chance de viver, após um transplante de rim. Foram anos vivendo como paciente renal crônica, até que o órgão sinalizou aos médicos que precisava ser substituído.
“Há 14 anos eu tenho uma nova vida. Foram 11 anos de hemodiálise e u já estava sem esperança. Graças a Deus e graças a uma família que disse “sim” eu pude ter uma nova vida. Eu comecei a fazer tratamento no final de 1998 e naquela época nem se falava em transplante. O paciente de hemodiálise, o sonho dele é o transplante”, ressalta Irlene.
A campanha “Setembro Verde” marca a mobilização nacional da sociedade para a doação de órgãos e tecidos. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio da Central Estadual de Transplantes (CET), deu início às ações com uma agenda que inclui palestras e orientações aos profissionais de saúde sobre o tema “Plante amor por onde for” durante todo este mês.
“Ao longo destes anos de gestão, nossa equipe vem buscando reconhecer os gargalos que possuímos na saúde pública em todo o Estado. Esse é um trabalho constante e minucioso, que não pode ser simplesmente técnico, mas também precisa priorizar a humanização. Nesse sentido, nosso olhar também se voltou aos transplantes e o que poderia ser feito para atender melhor nossa população. Hoje, estamos aumentando e melhorando nossa rede, além de melhorar os fluxos de atendimento. O Estado vem cumprindo a sua parte e é importante que também haja o envolvimento da população na causa, pois a doação de órgãos pode salvar muitas vidas”, disse o secretário de Saúde do Estado, Rômulo Rodovalho.
Transplantes no Pará – No Estado, são realizados os transplantes de rim, fígado, tecidos oculares (córnea e esclera) e medula óssea. Em 2023, até o mês de julho, foram realizados, no Pará, 301 transplantes de córnea, 43 transplantes de rim, 04 fígados e 10 de medula óssea. Ao todo, 1.568 pessoas no Pará estão em lista de espera aguardando por uma córnea (986), rim (578) e fígado (04).
A CET acompanha esses hospitais e coordena e fiscaliza todo o processo de doação, captação e transplantes de órgãos no Estado, sendo estes processos complexos e dinâmicos, com múltiplas etapas envolvendo equipes multiprofissionais.
Atualmente, a Central conta com uma equipe de 16 profissionais, entre médicos, biomédicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, agentes administrativos e motorista, que garantem o funcionamento da CET durante 24 horas, sem interrupções.
Dona Maria Lecide Araújo, avó do Willamy Rian Oliveira, de 9 anos, contava com este monitoramento constante para o tão sonhado dia de receber a ligação que daria uma nova oportunidade ao neto. A criança, da zona rural de Bragança, nordeste do Pará, passou cinco anos em tratamento de hemodiálise, em Belém. Era uma rotina difícil.
“Não foi fácil chegar até aqui. Esse processo do transplante, a gente não sabe o dia e nem a hora que vai ser chamado, mas, quando chega o momento certo, a gente só tem a agradecer. É uma alegria muito grande, que não tem explicação, tipo um sonho que a gente se pergunta ‘será se eu estou acordada mesmo?’ E, graças a Deus e a toda a equipe da Santa Casa, e os profissionais do transplante, que é uma equipe maravilhosa, deu tudo certo”, comemora a avó.
Como funciona a doação – órgãos só podem ser doados após uma série de processos e protocolos de segurança, incluindo o diagnóstico de morte encefálica, a autorização familiar para doação, a avaliação dos órgãos de modo a afastar doenças infecciosas, além da realização de exames de compatibilidade com prováveis receptores.
Após a confirmação do diagnóstico, a Central Estadual de Transplantes (CET) é notificada e a família consultada. É por meio da entrevistada realizada por uma equipe de profissionais de saúde que a família é informada sobre o processo e é solicitado o consentimento para a doação de órgãos.
Conforto da dor – A saudade do filho Gabriel, de 15 anos, é grande. O adolescente teve morte encefálica em maio deste ano. Apesar da dor, a mãe, Lucieli Pinheiro, foi solidária com outras pessoas que esperavam uma oportunidade de ter uma vida melhor.
“Nesse momento, senti muito no meu coração, de fazer isso por essas crianças, essas pessoas que eu não conheço, mas que estão com um pedacinho do Gabriel. Isso me dá uma tranquilidade, uma alegria no meu coração, de saber que meu filho permanece vivo em outras pessoas. A mensagem que eu deixo é: vamos ajudar o próximo, vamos fazer esse gesto lindo, que é o amor ao próximo. Não é fácil, mas a gente sabe que o nosso filho vai continuar vivo em outras pessoas. E isso é o que conforta a minha dor”, reforça Lucieli.